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WCEF reúne instituições globais para discutir apoio à economia circular

Publicado em 08/05/2025 às 11:49 edição Lenilde Pacheco


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Economia circular amplia resiliência das cadeias de suprimentos e garante ganhos de competividade - Foto: Pixabay

A transição da economia linear para a economia circular tem o potencial de combater as mudanças climáticas, retardar o esgotamento de recursos naturais e a perda de biodiversidade, mas não só. No campo econômico, pode oferecer oportunidades de crescimento significativas. Contudo, são inúmeros os obstáculos que dificultam a estruturação das cadeias de valor do plástico, vidro e papel, entre outras, temática para o Fórum Mundial de Economia Circular no Brasil, cuja programação acontece, entre 13 e 14 de maio, no Parque Ibirapuera, em São Paulo.

Ao optar por um modelo que incentiva a conservação do valor dos recursos pelo maior tempo possível, abre-se caminho para a redução da dependência gradual de insumos, maior resiliência das cadeias de suprimentos e ganhos de competividade.

“Empresas e governos podem promover uma mudança sistêmica rumo a economias mais sustentáveis e resilientes. Essencialmente, a circularidade reduz a dependência de matérias-primas virgens, ajudando a prevenir o colonialismo de recursos – uma ameaça crescente em que a exploração de recursos naturais corre o risco de repetir antigos padrões de desigualdade”, diz Kari Herlevi, diretor do Programa de Economia Circular do Sitra.

Um estudo da Fundação Ellen MacArthur (open in new window) de 2020 aponta que a adoção de princípios de economia circular em setores como mobilidade, construção e alimentação poderia gerar benefícios anuais de 1,8 trilhão de euros somente na Europa até 2030. Na China (open in new window), a implementação da circularidade em larga escala pode gerar uma economia de US$ 10 trilhões para empresas e famílias até 2040.

Empresas de vários setores têm adotado cada vez mais práticas de economia circular para aumentar receitas, reduzir custos e gerenciar riscos. Pesquisa da Confederação Nacional da Indústria (CNI) e do Centro de Pesquisa em Economia Circular da Universidade de São Paulo (USP), produzida em 2024 junto à base industrial, revelou que 85% das indústrias no Brasil desenvolvem pelo menos uma prática de economia circular.

Por exemplo, na multinacional Philips, que provê alternativas de tecnologia de saúde e de iluminação, soluções circulares representaram 20% das vendas em 2023. Para este ano, o objetivo é que 25% da receita(open in new window) venham de produtos, serviços e soluções que contribuam com a circularidade.

Para acelerar a transição da economia linear para a circular, é fundamental o apoio do setor financeiro, que começa a enxergar as oportunidades. Instituições como BlackRock, Credit Suisse e Goldman Sachs lançaram fundos de ações com foco parcial ou total em economia circular em 2020. Até 2017, nenhum fundo dessa natureza existia.

Tendência semelhante tem sido percebida em relação a empréstimos bancários, financiamentos de projetos e seguros. O Banco Europeu de Investimento firmou parceria com cinco dos maiores bancos e instituições de fomento da Europa para lançar uma iniciativa que prevê empréstimos e investimentos de cerca de 10 bilhões de euros dedicados à economia circular.

No Brasil, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) atua em projetos de circularidade, mas é necessário ainda mais engajamento de investidores, bancos e empresas de serviços financeiros para que as companhias se sintam encorajadas a fazer este movimento.

“A transição para a economia circular abre novas oportunidades para o setor financeiro”, diz o presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Josué Gomes da Silva. “O Brasil tem um enorme potencial a ser explorado neste modelo econômico que pode gerar novos negócios, investimentos e receita”.

É por esse motivo que bancos, instituições globais e o setor privado terão um papel fundamental nas discussões que serão promovidas durante o Fórum Mundial de Economia Circular (WCEF), que acontecerá entre 13 e 16 de maio, em São Paulo. O evento é realizado pelo fundo finlandês Sitra, Fiesp, Senai-SP, Confederação Nacional da Indústria (CNI) e Senai Nacional.

“A realização do Fórum Mundial de Economia Circular no Brasil reflete o compromisso cada vez maior da indústria nacional com modelos produtivos mais sustentáveis. A economia circular já é uma agenda estratégica para o setor industrial, e eventos como o WCEF ampliam o diálogo com parceiros internacionais, fortalecem iniciativas existentes e abrem novas oportunidades para o desenvolvimento de soluções circulares em larga escala”, afirma o presidente da CNI, Ricardo Alban.

O Parque Ibirapuera sediará o evento principal, nos dias 13 e 14 de maio. As 102 sessões de aceleração, onde instituições e empresas poderão mostrar exemplos de circularidade na prática, ocorrem em diferentes localidades, nos dias 15 e 16 de maio.

Palestrantes do WCEF
O vice-presidente do Banco Europeu de Investimento (EIB) Ambroise Fayolle será um dos palestrantes da sessão “Destravando uma Economia Sustentável com Inovações Circulares”. Fayolle supervisiona o financiamento e a tesouraria do EIB e integra o conselho do Fundo Europeu de Investimento.

Gabriel Azevedo é o Diretor-Geral de ESG do BID Invest, braço de investimentos do Banco Mundial. Já liderou projetos de desenvolvimento em mais de 40 países e foi membro de entidades como Conselho do Fundo Brasileiro para a Biodiversidade (FUNBIO) e Associação Brasileira de Recursos Hídricos (ABRHidro). Será palestrante na plenária “Destravando uma Economia Sustentável com Inovações Circulares”.

A coordenadora regional do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) e líder da coordenação da Coalizão de Economia Circular da América Latina e Caribe, Beatriz Martins Carneiro vai participar do painel “Empoderando Trabalhadores Informais: Caminhos para a Circularidade Inclusiva”.

Os catadores, por sua vez, serão representados pelo secretário-geral da Aliança Internacional de Catadores de Materiais Recicláveis (IAWP) Kabir Arora e pelo diretor da Ancat e líder comunitário e ambiental de Orlândia, São Paulo, Anderson da Silva Nassif. Nassif é responsável pelo Programa Reciclar pelo Brasil, por meio do qual coordena e presta consultoria para cooperativas.

O embaixador André Aranha Corrêa do Lago trabalha com temas de desenvolvimento sustentável desde 2001. Era secretário de Clima, Energia e Meio Ambiente do Ministério das Relações Exteriores até assumir a presidência da COP30. Será o principal speaker da plenária “A Economia Circular como Caminho para Metas do Clima e da Natureza”.

Izabella Teixeira, ex-ministra do Meio Ambiente do Brasil (2010-2016) e ganhadora do prêmio “Campeões da Terra” do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente por sua contribuição na redução do desmatamento na Amazônia, e Dan Ioschpe, campeão climático da COP30, presidente do Conselho de Administração da Iochpe-Maxion S.A. e vice-presidente da Fiesp são dois dos principais nomes brasileiros confirmados para o evento.

Experiências internacionais
Autoridades e lideranças estrangeiras compartilharão suas experiências à frente de países e entidades pioneiras na implementação de iniciativas de economia circular.

Da Finlândia participarão a ex-presidente Tarja Halonen (2000-2012), que também foi ministra dos Assuntos Sociais e Saúde, da Justiça e das Relações Exteriores, além de Kari Herlevi, diretor do Programa de Economia Circular do Fundo de Inovação Finlandês Sitra e Mika Sulkinoja, líder sênior do Sitra.

A Holanda será representada pela diretora-geral para o Meio Ambiente e Assuntos Internacionais Afke van Rijn. Desde fevereiro de 2023, Afke van Rijn é responsável pelas pautas de economia circular, gestão de resíduos, proteção ambiental, qualidade do ar e políticas de adaptação climática na Holanda.

Pela Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL) participará o diretor da Divisão de Desenvolvimento Sustentável e Assentamentos Humanos Carlos De Miguel. Ele lidera pesquisas sobre mudança climática, economia circular, desempenho ambiental e instrumentos econômicos e vai compor o painel “Soluções Tropicais para Acelerar a Circularidade”.

Iniciativas bem-sucedidas de economia circular
Além de lideranças globais e representantes do setor financeiro, o WCEF convidou pesquisadores e empresários que já implementaram práticas de economia circular para mostrar cases.

Mari Granström, fundadora e chief executive activist da Origin by Ocean vai mostrar como sua empresa transforma algas invasoras em produtos químicos biológicos e biodegradáveis que substituem derivados do petróleo.

O vice-presidente da Fiesp Nelson Pereira do Reis vai apresentar um trabalho inédito da Fiesp e da CNI que reúne 50 práticas bem-sucedidas de economia circular implantadas no Brasil e em outros países da América Latina.

CEO da Assessa, Daniel Barreto é químico e engenheiro químico e leciona na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Possui diversas publicações e patentes nas áreas de Química Fina Orgânica, Química Aplicada, Ciência dos Materiais, Química Cosmética e Química de Produtos Naturais. Vai apresentar o painel “Soluções Baseadas em Florestas Promovem a Circularidade e a Sustentabilidade nas Cadeias de Valor”.