

Seis a cada dez indústrias adotam práticas de economia circular no Brasil
Publicado em 13/05/2025 às 15:07 edição Lenilde Pacheco

Economia circular é estratégica para o modelo sustentável e contribui para regenerar sistemas naturais
Seis em cada dez indústrias brasileiras adotam práticas de economia circular, segundo sondagem especial da Confederação Nacional da Indústria (CNI). Entre os principais benefícios percebidos pelas empresas estão a redução de custos, o fortalecimento da imagem corporativa e o estímulo à inovação. O levantamento ouviu 1.708 empresas das indústrias extrativa, de transformação e da construção civil, entre 3 e 13 de fevereiro de 2025.
A sondagem detalhou quais são as práticas circulares mais adotadas pelas indústrias brasileiras. A ação mais frequente é a reciclagem de produtos, presente em um terço das empresas. Em seguida, aparecem o uso de matéria-prima secundária nos processos produtivos (30%) e o desenvolvimento de produtos com foco na durabilidade (29%).
Os dados mostram a presença da circularidade nas estratégias industriais em diferentes setores, muitos com níveis altos de adoção de práticas. Como de calçados, por exemplo, em que 86% das empresas afirmam adotar medidas circulares.
Biocombustíveis (82%), equipamentos eletrônicos e veículos (ambos com 81%), coque e derivados de petróleo (80%) e celulose e papel (79%) também aparecem com altas proporções. Por outro lado, setores como o farmacêutico (33%), construção civil (39% a 42%) e impressão (40%) apresentam índices mais baixos.
“A indústria, por seu perfil tão diverso, apresenta diferentes níveis de adoção da circularidade entre os setores. Os dados nos ajudam a identificar quais setores têm mais desafios e quais já incorporaram as práticas para que possamos discutir políticas adequadas para a maior disseminação da economia circular, considerando as diferenças de complexidade nas cadeias produtivas dos setores. Entendemos que o tema é peça-chave para o alcance das metas climáticas e para o desenvolvimento sustentável”, afirma Roberto Muniz, diretor de Relações Institucionais da CNI.
Os resultados do levantamento serão apresentados durante a nona edição do Fórum Mundial de Economia Circular, que ocorre de 13 a 16 de maio, no Parque do Ibirapuera, em São Paulo. O evento é promovido pelo Fundo de Inovação da Finlândia, Sitra, em parceria com a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP), a Confederação Nacional da Indústria (CNI) e o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI).
Muniz destaca ainda que o Fórum Mundial de Economia Circular prepara o terreno para as contribuições da indústria brasileira na 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP30). “A realização do evento em SP é um passo importante para posicionar a circularidade como um eixo estratégico nas discussões da COP30. O evento permite antecipar soluções que integram inovação, competitividade e compromisso climático”, completa.
Custos, reputação e inovação
Para 35% das empresas consultadas, a principal vantagem associada à economia circular é a redução de custos operacionais. A melhoria da imagem corporativa (32%) e o estímulo à inovação (30%) também foram apontados como benefícios relevantes.
Além de ganhos econômicos diretos, como a diminuição de gastos com insumos e energia, a economia circular também é destacada por estudos como um modelo de criação de valor.
A consultoria McKinsey estima que práticas circulares podem reduzir custos de produção em até 20% e elevar a receita em até 15%. Já a Accenture projeta que modelos circulares podem movimentar até US$ 4,5 trilhões até 2030. No Brasil, um estudo da Fundação Getúlio Vargas (FGV) sobre o compartilhamento de paletes entre distribuidores e varejistas apontou redução de até 38% nos custos operacionais.
“A indústria brasileira tem se engajado ativamente na transição para uma economia circular. Estamos contribuindo com propostas para a Estratégia Nacional de Economia Circular e demonstrando, na prática, como esse modelo pode gerar ganhos ambientais, econômicos e sociais. A economia circular é um pilar estratégico para a competitividade do setor industrial e para o desenvolvimento sustentável do país”, destaca Davi Bomtempo, superintendente de Meio Ambiente e Sustentabilidade da CNI.
Embora 62% das indústrias adotem ao menos uma prática de economia circular, a sondagem mapeou desafios que ainda limitam o avanço das iniciativas. Entre os aspectos culturais e educacionais, 43% das indústrias afirmam não conseguir identificar quais fatores representam barreiras à circularidade.
Entre aquelas que conseguem, 25% apontam a falta de conscientização dos consumidores e 23% mencionam a ausência de estratégias para engajá-los. Do ponto de vista econômico, a taxa de juros de financiamento foi o fator mais citado, apontado por 22% das empresas como principal obstáculo.
A limitação da oferta de soluções circulares economicamente viáveis (20%) e a percepção de que há baixa demanda por esses produtos e serviços (19%) também aparecem como entraves. No campo tecnológico, 30% das empresas destacam a viabilidade econômica das tecnologias como o principal desafio.
A ausência de mão de obra qualificada aparece na sequência (26%), seguida pela baixa colaboração entre empresas e instituições de ciência e tecnologia (23%). A pesquisa ainda revelou diferenças importantes entre os portes de empresa: nas pequenas, a falta de mão de obra tem peso maior, enquanto nas grandes, os desafios se concentram em investimento e inovação.
Demanda por regulamentação
As regulamentações em vigor também são apontadas como fatores que influenciam a adoção de práticas circulares. No caso das normas tributárias, 45% das empresas consideram que a atual estrutura dificulta a implementação da economia circular. Para as regulamentações econômicas, esse percentual é de 40%.
Questionadas sobre medidas prioritárias que o governo poderia adotar no campo regulatório, 53% das empresas sugerem a simplificação das normas. A convergência entre regulamentações federais, estaduais e municipais é citada por 31% dos respondentes, enquanto 23% defendem o alinhamento entre diferentes tipos de regulação — como as ambientais, sanitárias e tributárias.
Questionadas sobre medidas prioritárias que o governo poderia adotar no campo regulatório, 53% das empresas sugerem a simplificação das normas. A convergência entre regulamentações federais, estaduais e municipais é citada por 31% dos respondentes, enquanto 23% defendem o alinhamento entre diferentes tipos de regulação — como as ambientais, sanitárias e tributárias.
Contexto global
O avanço de práticas industriais mais eficientes é considerado essencial diante dos desafios globais. Segundo o Global Resources Outlook 2024, a extração de recursos naturais triplicou desde 1970, saltando de 30 para 106 bilhões de toneladas. Sem ações estruturais, esse número pode aumentar 60% até 2060. A expectativa é que o consumo global de materiais, como biomassa, combustíveis fósseis, metais e minerais, dobre nos próximos 40 anos, enquanto a geração anual de resíduos aumente 70% até 2050.
A economia circular propõe uma abordagem sistêmica para reduzir o uso de recursos, minimizar resíduos e regenerar sistemas naturais. No contexto industrial, isso se traduz em práticas voltadas à retenção de valor dos materiais, reaproveitamento de insumos e redesenho dos processos produtivos.
Histórico de pesquisa
Em 2024, a CNI realizou uma consulta com 253 indústrias de transformação e da construção civil sobre economia circular na qual 85% declararam adotar práticas de economia circular.
Por diferença de escopo e metodologia, no entanto, os dados de 2024 e 2025 não podem ser comparados. Além do número menor de empresas participantes, a sondagem de 2024 apresentou uma lista mais ampla de exemplos de práticas circulares.
A sondagem atual priorizou práticas de economia circular com maior grau de maturidade. Nesta edição, foram consultadas 1.411 empresas das indústrias extrativa e de transformação — sendo 573 pequenas, 504 médias e 334 grandes —, além de 297 empresas da construção civil.
A CNI atua para fomentar a adoção da economia circular no país. A instituição lidera o grupo de trabalho responsável por propor um ambiente normativo favorável à circularidade, um dos cinco eixos estruturantes do Plano Nacional de Economia Circular (Planec), aprovado pelo governo federal na última quinta-feira (8).
Agência de Notícas da Indústria