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Gestão de resíduos requer ações urgentes e sustentáveis, defende especialista

Publicado em 30/04/2025 às 06:34 edição Lenilde Pacheco


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Eduardo Porciúncula: gestão de resíduos é estratégica para o desenvolvimento sustentável - Foto: Divulgação

Eduardo Porciúncula*

A gestão de resíduos sólidos nos municípios brasileiros é um dos grandes desafios ambientais e urbanos da atualidade. Enquanto as cidades europeias vêm diminuindo significativamente o uso de aterros sanitários e adotando modelos sustentáveis de reaproveitamento de resíduos, o Brasil ainda caminha a passos lentos para transformar seu lixo em valor. A Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), instituída pela Lei 12.305/2010, distribui diretrizes claras para a destinação correta dos resíduos, mas, passados mais de 13 anos, grande parte dos municípios ainda falha na implementação, seja por limitações financeiras, técnicas ou administrativas.

A sustentabilidade já não é mais um diferencial competitivo e sim uma necessidade. O compromisso com práticas responsáveis de gestão de resíduos não apenas promove um impacto ambiental positivo, mas também impulsiona novas oportunidades de negócios e inovação. Investir em tecnologias para transformar resíduos em energia limpa representa um avanço significativo na transição energética e na mitigação das mudanças climáticas.

A gestão sustentável dos resíduos gerados pelas atividades domésticas, comerciais e industriais desempenha um papel crucial na preservação do meio ambiente. Apesar dos desafios enfrentados pelos municípios brasileiros, a gestão de resíduos representa uma oportunidade valiosa para transformar rejeitos não recicláveis em energia limpa.

Para se ter uma ideia, um estudo da Associação Brasileira de Resíduos e Meio Ambiente (Abrema) estima que 33 milhões de toneladas de resíduos foram destinados de forma inadequada em 2022, representando não só um problema ambiental, mas também econômico, podendo custar até R$ 130 bilhões até 2050. Iniciativas como o coprocessamento, que transforma rejeitos não recicláveis em energia limpa, surgem como uma solução crucial para mitigar esse cenário.

A magnitude do problema fica evidente quando se observa o fato de que cada brasileiro produz, em média, um quilo de resíduos sólidos urbanos por dia. São bandejas de plástico, papéis engordurados, esponjas de cozinha, isopor, embalagens metalizadas e de produtos congelados, etiquetas adesivas, colchões, sofás e até fotografias. De acordo com a Abrema, esse volume seria suficiente para encher 2.000 estádios do Maracanã.

O Painel de Resíduos Sólidos produzido pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) mostra que o Brasil gera mais de 700 milhões de toneladas de resíduos industriais por ano. A Abrema aponta que 41,5% dos resíduos sólidos urbanos ainda têm destinação inadequada, sendo que 35,5% vão para aterros não controlados e 5,7% são queimados no local de geração sem controle ambiental. Tudo isso representa uma grande ameaça ao meio ambiente e à saúde pública.

Os números contrastaram fortemente com a realidade das cidades europeias. Em Copenhague, por exemplo, menos de 2% dos resíduos vão para aterros, enquanto o restante é reciclado ou transformado em energia. Já em Milão, uma coleta seletiva atingiu cerca de 63% da população, resultado de um sistema eficiente de separação na fonte e incentivos financeiros para quem reduz a geração de lixo.

É nesse contexto que a gestão de resíduos entra como uma ferramenta estratégica para o desenvolvimento sustentável. Por meio do coprocessamento, resíduos não-recicláveis são fontes alternativas de energia para a indústria cimenteira, por exemplo, reduzindo significativamente o volume de resíduos destinados a aterros e mitigando a emissão de gases de efeito estufa.

Resíduos não-recicláveis, como plásticos e papelão contaminados, podem ser transformados em CDR – Combustível Derivado de Resíduos – uma alternativa sustentável ao uso de combustíveis fósseis. Restos de plásticos, embalagens flexíveis, EPIs, papéis e tecidos contaminados também podem ser utilizados para produzir CDR, promovendo a economia circular e garantindo que materiais antes descartados sejam reaproveitados como energia limpa.

A transição para uma gestão de resíduos mais eficiente exige não apenas infraestrutura e tecnologia, mas também um forte investimento em educação ambiental. A conscientização sobre a destinação correta dos resíduos é essencial para que as regras e metas estabelecidas pelo Plano Nacional de Resíduos Sólidos saiam do papel.

A COP 30, que será realizada no Brasil, trará ainda mais relevância para o debate sobre energia limpa e gestão sustentável de resíduos, colocando o país no centro da discussão global sobre soluções inovadoras para a redução das emissões e preservação ambiental.

Convido gestores municipais e empresas a repensarem suas estratégias de destinação de resíduos. Com soluções inovadoras e sustentáveis, é possível transformar desafios ambientais em oportunidades de desenvolvimento econômico e social. O lixo, muitas vezes tratado como um problema, pode ser a chave para um futuro mais sustentável e eficiente para todos.

* Eduardo Porciúncula é engenheiro e Gerente Geral na Verdera, unidade de gestão e destinação sustentável de resíduos da Votorantim Cimentos.

Sobre a Verdera
A Verdera é a unidade de gestão e destinação sustentável de resíduos da Votorantim Cimentos. Desde 1991, a empresa atua com coprocessamento e foi pioneira em trazer essa tecnologia para o Brasil. A Verdera atua na cadeia de soluções ambientais dando um novo valor para os resíduos. É um parceiro com alta capacidade de realização, que entende as particularidades de cada negócio e que está comprometido a fazer do jeito certo e a pensar de forma diferente para descobrir novas possibilidades que transformem a realidade de todos. Mais informações em www.verderasolutions.com.br.

Sobre a Votorantim Cimentos
A Votorantim Cimentos é uma empresa de materiais de construção e soluções sustentáveis com mais de 13 mil empregados. O portfólio de materiais de construção vai além de cimentos e inclui concretos, argamassas e agregados. A companhia também atua nas áreas de insumos agrícolas, gestão de resíduos e coprocessamento. As unidades da Votorantim Cimentos estão estrategicamente próximas aos mais importantes mercados consumidores em crescimento e presentes em nove países, além do Brasil: Argentina, Bolívia, Canadá, Espanha, Estados Unidos, Luxemburgo, Marrocos, Turquia e Uruguai.