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Algodão colorido impulsiona moda sustentável e ocupa passarelas de Milão

Publicado em 15/09/2021 às 12:07 edição Lenilde Pacheco


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Natural Cotton Collor em Desfile BEFW 2018 - Foto: Divulgação

A proposta de tornar mais limpa a indústria da moda ganha adeptos em dezenas de renomadas marcas e varejistas globais comprometidos em usar algodão 100% sustentável até 2025.  Por isso, fashionistas estão interessados em produto cultivado no sertão da Paraíba: o algodão colorido, que desperta a atenção do mercado internacional. Com demanda crescente, a produção da fibra pode ganhar escala com a participação de oito marcas de moda do Brasil na Milan Fashion Week, de 21 a 27 de setembro, na Itália.

Cultivado em assentamentos rurais, o algodão da Paraíba já nasce colorido em tons de bege, marrom e verde. Orgânico, sem irrigação e sem tingimentos, gera economia de 87,5% de água na cadeia produtiva têxtil. Desta forma, a moda encontra no algodão colorido orgânico uma alternativa para transformar o setor têxtil e de confecção, a 4ª maior do mundo, em uma indústria viável, com uso de fibras naturais, limpas e menos poluentes.

Com realização da Brasil Eco Fashion Week (BEFW) em parceria com a Fashion Vibes, de Milão, as marcas brasileiras que usam o algodão colorido da Paraíba devem provocar uma expansão do cultivo no campo. Entre elas, a Natural Cotton Color, com sede em João Pessoa (PB).

A marca é conhecida por fomentar a economia local por meio do plantio do algodão colorido com contrato de compra garantida com os agricultores, incluindo o trabalho das artesãs destas áreas rurais na produção,, trazendo à tona a viabilidade de uma moda socialmente justa, economicamente viável e que promove o desenvolvimento local.

“De duas toneladas de algodão cultivados em 2012 já chegamos a 120 toneladas, tudo com certificação internacional de produto orgânico, gerando renda para mais de 400 famílias”, explica Francisca Vieira, CEO da empresa. A empresária destaca que o alcance internacional também é resultados do desenvolvimento de novos fios e tecidos pela indústria têxtil da região.

Com a coleção, a empresa vai apresentar em Milão o Denim 100% orgânico que possui cor, mas sem nenhum tipo de tingimento, o jacquard de algodão com seda e, ainda, tecidos desenvolvidos com fios que fundem o algodão com resíduos de seda e de linho. “Há também ternos produzidos em moletinho de algodão com seda. E o smoking que deixa de ser black tie para se apresentar marrom, cor natural do algodão colorido orgânico”, detalha Francisca.

Para Rafael Morais, diretor executivo do BEFW, a participação destas marcas de moda ajuda a posicionar o Brasil como referência neste segmento da indústria, nutrindo o interesse global por moda ética e sustentável”, diz.

O cultivo do algodão colorido e sua valorização no mundo da moda são ações alinhadas a vários dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável, ODS 2030 da Organização das Nações Unidas, como o Objetivo 2, Promover a agricultura sustentável; o Objetivo 8, Trabalho decente e crescimento econômico; o Objetivo 9, Promover a industrialização inclusiva e sustentável e fomentar a inovação; o Objetivo 12, Garantir padrões de produção e consumo sustentáveis, entre outros.

Apenas 22% do algodão mundial é sustentável e 1% do algodão produzido no mundo é orgânico, segundo a Textile Exchange, que acompanha a evolução do assunto, atenta à meta de 45% de redução das emissões de CO2 da produção de fibras têxteis e materiais até 2030.

Milão

O desfile da Natural Cotton Color em Milão conta com o apoio do Centro de Tecnologia Têxtil do Senai da Paraíba por meio da consultoria do designer Rafael Lemos. A inovação artesanal teve desenvolvimento e capacitação realizados com apoio do Sebrae Paraíba. As peças do desfile foram produzidas com tecidos feitos em parceria com as indústrias têxteis Ecosimple e Unitextil.

Pesquisas

O algodão colorido do Estado da Paraíba já nasce com cores. Ele é resultado de pesquisas que começaram na década de 1980, pela Embrapa Algodão (PB). Por meio de um processo de seleção genética, foram identificados os genes responsáveis pela cor e que conferiam resistência, comprimento e finura da fibra da planta.

As variedades coloridas, que não são transgênicas, foram obtidas pelo processo convencional de melhoramento genético, que também agrega resistência às pragas do algodoeiro. O trabalho resultou em quatro tipos de algodão de coloração natural: marrom, verde, safira, rubi e topázio.

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Em 2020, a safra de algodão colorido chegou a cerca de 50 toneladas de pluma, segundo produtores e dos técnicos da Empresa Paraibana de Pesquisa, Extensão Rural e Regularização Fundiária (Empaer). A produção foi três vezes maior que a safra anterior.

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