

Produtores rurais da Bahia ampliam o monitoramento do Aquífero Urucuia
Publicado em 18/06/2025 às 13:29 edição Lenilde Pacheco

Monitoramento fornecerá dados técnicos essenciais para aprimorar a gestão hídrica - Foto: AIBA/Divulgação
Lenilde Pacheco*
Historicamente ligado a impactos ambientais, o agronegócio brasileiro tem adotado práticas mais sustentáveis e inovação tecnológica para preservar recursos naturais. Essa pauta ganhou destaque na Bahia Farm Show 2025, cuja programação terminou no último dia 14, com ênfase na importância de soluções para conjugar qualidade e responsabilidade socioambiental, incluindo atenção máxima aos cuidados com o Aquífero Urucuia, por exemplo.
Considerado uma caixa d’água natural, o aquífero se estende por área estimada em 14 milhões de hectares, com a maior parte localizada no Oeste da Bahia. Abrange o extremo norte de Minas Gerais, extremo leste de Goiás e de Tocantins e extremo sul do Piauí e do Maranhão. É uma fonte significativa de água doce, responsável pela perenização dos rios Grande e Corrente. Contribui significativamente para a manutenção das vazões do rio São Francisco.
A expansão da atividade agrícola irrigada, no entanto, já alterou as vazões dos cursos d’água naquela região, como também do rio São Francisco. O uso intensivo da água, tanto superficial quanto subterrâneo, portanto, exige mais estudos de disponibilidade hídrica. Foi o que motivou a Associação Baiana dos Produtores de Algodão (Abapa) a participar da assinatura do termo de cooperação entre a Associação de Agricultores e Irrigantes da Bahia (Aiba) e o Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Inema), visando a ampliação das estações e telemétricas de monitoramento do Aquífero Urucuia.
O documento assinado prevê a operação de aproximadamente 47 pontos de monitoramento no Oeste baiano. Cada ponto fornecerá dados técnicos essenciais para aprimorar a gestão hídrica. No ano passado, a Abapa já apoiou o Projeto de Estudo do Potencial Hídrico, coordenado pela Aiba, com o apoio da Universidade Federal de Viçosa (UFV) com o propósito de conhecer a dinâmica hidrogeológica, avaliar como interage com o meio ambiente, incluindo fatores como precipitação e evaporação.
São as análises técnicas que permitem identificar a quantidade de água que o aquífero pode fornecer para diferentes usos, como agricultura, indústria e consumo humano, ajudando a definir as práticas de irrigação e utilização geral da água que não comprometam o futuro deste importante manancial hídrico subterrâneo. Monitorado, pode ser melhor preservado.
Para a presidente da Associação Baiana dos Produtores de Algodão (Abapa), Alessandra Zanotto Costa, a agenda sustentável tem caráter permanente. “Todos os atores: produtor rural, financiadores e o poder público precisam estar alinhados”, disse. “Essa sintonia é crucial porque os investimentos em sustentabilidade exigem elevados recursos para adequações tecnológicas e certificações, por exemplo, como no programa Algodão Brasileiro Responsável”.
A preservação dos recursos hídricos é um dos desafios mais urgentes da atualidade, como demonstra estudo realizado por pesquisadores brasileiros e do exterior, publicado no periódico Nature Communications “Widespread potential for streamflow leakage across Brazil”. Em amostragem de 17.972 poços situados em todo o território nacional, 55% apresentaram níveis de água abaixo da superfície dos rios mais próximos. Essa diferença no nível hidráulico cria um gradiente que favorece o movimento da água do rio para o subsolo, podendo transformar rios em perdedores de fluxo de água.
No caso da bacia do São Francisco, 61% dos rios analisados mostraram potencial de perda de fluxo de água para o aquífero, resultado atribuído ao uso intensivo de águas subterrâneas principalmente para irrigação. “Essa bacia é imprescindível para a agricultura e geração de energia hidrelétrica. O que está ocorrendo põe em risco não apenas a sustentabilidade local, mas também a segurança hídrica, alimentar e energética em grande escala”, registrou Paulo Tarso Sanches de Oliveira, um dos autores do estudo, professor de hidrologia e recursos hídricos na Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) e no Programa de Pós-Graduação em Engenharia Hidráulica e Saneamento da Escola de Engenharia de São Carlos da Universidade de São Paulo.
Ainda durante a Bahia Farm Show, a Abapa acelerou o diálogo com o com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para obter recursos do Fundo Clima 2025 para novos projetos ambientais voltados à recuperação de nascentes e reflorestamento. A ideia é utilizar a linha voltada a Florestas Nativas e Recursos Hídricos, para financiar ações ambientais com recursos não reembolsáveis, como discutido com o assessor da Diretoria de Crédito Digital do banco, Caio Cavalcanti Ramos.
O Fundo Clima 2025 é gerido pelo Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA) com linha de incentivo para projetos nas áreas de florestas nativas, recursos hídricos, transição energética, logística verde e agricultura de baixo carbono. A união de propósitos com os produtores do Oeste baiano que atuam na recuperação das nascentes e matas ciliares, por exemplo, pode impulsionar maior eficiência no uso da água e o planejamento hídrico integrado, assegurando proteção ao ecossistema e à segurança alimentar, energética e econômica.
* Lenilde Pacheco é jornalista especializada em Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável.