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Economia circular agrega urgência da proteção ambiental a negócios

Publicado em 07/05/2025 às 11:34 edição Lenilde Pacheco


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Hari Hartmann: construção de caminhos para o futuro depende de ações estruturantes - Foto: Divulgação

Lenilde Pacheco*

A transição para um modelo econômico brasileiro mais sustentável, superando o método linear de produção e consumo até 2040 ganhou destaque, nos últimos meses, diante da urgência de preservação de recursos naturais e criação de novos modelos de negócios. O fortalecimento da economia circular é uma alternativa para enfrentar este desafio, com perspectiva de impulsionar a inovação, gerar empregos e aumentar a competitividade.

Contudo, não basta criar um ambiente normativo favorável à economia circular, alerta o engenheiro ambiental e sanitarista, Luiz Felipe Tavares. “Governo, setor privado, academia e sociedade civil precisam de uma abordagem coordenada para superar obstáculos num cenário ainda dominado por iniciativas pontuais”.

A discussão ganha espaço especialmente porque o Plano Nacional de Economia Circular encontra-se em fase de final de elaboração pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC). Pode ser um importante avanço, se vier acompanhado de salvaguardas para a sua implementação e monitoramento. Deve estar pronto, ainda no primeiro semestre, para impulsionar a circularidade na produção e consumo, assim como a inovação tecnológica e a redução de desperdícios.

É preciso observar, porém, que a maioria dos municípios brasileiros não possui infraestrutura adequada para coleta seletiva, triagem e reprocessamento de materiais. Isso limita o reaproveitamento de resíduos sólidos, plásticos, eletrônicos etc. Enquanto prevalece a infraestrutura deficiente para reciclagem e reúso, perde-se a diversificação de matérias-primas com a recuperação, reciclagem e compostagem.

No Brasil, são produzidas mais de 80 milhões de toneladas de resíduos urbanos por ano, com menos de 4% recicladas efetivamente, segundo dados da Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe).

“São essenciais as medidas de ativação das cadeias de valor do plástico, papel e vidro, entre outras, incluindo a logística reversa”, assinala Luiz Felipe Tavares. Inovação também é importante mas a valorização das cooperativas de catadores deve ser o primeiro passo para alcançar melhores resultados administrativo e financeiro. “Quando bem estruturadas, as cooperativas contribuem para a qualidade de vida dos trabalhadores e inclusão social”.

Luiz Felipe Tavares atua na Retec, empresa de Engenharia Ambiental com sede em Salvador e unidades em cinco municípios baianos (Simões Filho, Barreiras, Guanambi, Juazeiro e Bom Jesus da Lapa), onde emprega alta tecnologia para o gerenciamento de resíduos. “Somente educação ambiental nas escolas pública e privada promoveremos a redução de resíduos, para avançar simultaneamente com a circularidade, o indispensável reúso de matérias-primas”, acrescentou.

O especialista em sustentabilidade, Hari Hartmann, CEO da indústria têxtil Polo Salvador, referenda este raciocínio, ao afirmar que a construção de caminhos para o futuro depende de ações estruturantes. “Temos visto a oferta maior de ecopontos, por meio de parcerias público-privadas, o que contribui para o descarte adequado de resíduos e fortalece a economia circular. Mas isso não basta. É preciso criar a cultura da sustentabilidade com educação ambiental a partir das crianças”.

No mundo corporativo, Hari Hartmann atua com entusiasmo em ações ESG (do inglês, ambiental, social e governança). Tanto na Federação das Indústrias da Bahia (FIEB) quanto em sua empresa, no bairro do Uruguai, impulsiona a agenda verde. A indústria Polo Salvador é certificada pela GBC (Green Building Council) como autossuficiente em energia; instalou painéis solares, reduziu a dependência de fontes não renováveis e contribui para a redução das emissões de carbono.

As ações socioambientais desenvolvidas por Hartmann instituíram um modelo de produção têxtil sustentável na capital baiana. A fábrica possui um sistema de captação e uso da água da chuva para reduzir o consumo da água potável, recurso escasso e caro. Uma parede verde amplia o bem-estar e valoriza a biodiversidade. No relacionamento com a comunidade, o reaproveitamento de retalhos de tecidos – uma tonelada/mês – amplia a renda de creche cadastrada. São iniciativas que inspiram e se multiplicam entre os demais integrantes do Condomínio Bahia Têxtil (CTB), no bairro do Uruguai, onde funcionam 21 lojas de moda e fardamento para pronta entrega.

Lenilde Pacheco é jornalista especializada em Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável.