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Destravar a transição energética é uma corrida contra o tempo
Publicado em 20/02/2025 às 00:09 edição Lenilde Pacheco
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Bahia se mantém entre os estados líderes na produção de energia renovável - Foto: Pixabay
Lenilde Pacheco*
As altas temperaturas registradas durante o verão, em todo o País, levaram o consumo de energia a recordes históricos. Na quarta-feira, 12 de fevereiro, a demanda atingiu 103.785 MW, de acordo com o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS). Esse é um dos indicativos de que os esforços para a transição energética se tornaram uma corrida contra o tempo e desafiam especialistas que travaram ampla discussão sobre essa temática, na sede da Federação das Indústrias do Estado da Bahia (FIEB).
Cara e complexa, a transição para fontes renováveis enfrenta obstáculos estruturais, regulatórios, econômicos e tecnológicos. Por isso, as maiores preocupações são a segurança e estabilidade do sistema; armazenamento de energia; infraestrutura (novas linhas de transmissão); sustentabilidade; justiça energética e regulação.
Com a presença de lideranças dos setores público e privado, a Bahia sediou este debate, semana passada, com o propósito de manter-se no protagonismo do processo. O Estado é um dos líderes em geração de energia renovável no Brasil, especialmente em eólica e solar, mas enfrenta obstáculos específicos.
O acelerado crescimento da geração eólica e solar encontrou gargalo porque ainda há necessidade de expansão das redes. Em 2024, a Bahia se manteve entre os estados líderes do ranking de produção de energia renovável. As 331 usinas em operação no estado produziram cerca de 9,67 mil GWh (Gigawatt/hora), energia suficiente para abastecer mais de 18 milhões de residências. Os parques eólicos estão espalhados por 35 municípios baianos, como Boninal, Brumado, Sento Sé, Tucano, Morro do Chapéu, Caetité, Campo Formoso, Pindaí, Gentio do Ouro, Igaporã, Xique-Xique, Guanambi e Mulungu do Morro.
Com potencial para hidrogênio verde e bioenergia, a Bahia precisa de uma cadeia industrial para agregar valor à produção de energia renovável. O novo ciclo também requer a formação de mão de obra especializada para operar e manter usinas, exigindo investimentos em engenharia e maior qualificação técnica.
Durante o evento que reuniu investidores e grandes players do mercado de combustíveis renováveis, o deputado federal Arnaldo Jardim (Cidadania-SP), presidente da Comissão Especial de Transição Energética, citou dispositivos legais que podem impulsionar a produção de combustíveis renováveis: as debêntures de infraestrutura, o Programa de Aceleração da Transição Energética (Paten), a nova regulação de produção do hidrogênio de baixo carbono, e a nova legislação do chamado combustível do futuro, que vai impulsionar a produção de etanol.
O economista Adriano Pires, sócio fundador do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), enfatizou que a transição energética não será um processo rápido dada a importância do petróleo no mundo globalizado e a necessidade de adaptação à nova realidade. Por isso, considera inadequado demonizar os combustíveis fósseis, levando em conta as diferenças econômicas regionais. “Na solar e eólica tivemos um boom de investimentos sem planejamento, o que precisa ser evitado”.
A vice embaixadora dos Emirados Árabes Unidos em Brasília, Maysoun Al-Dah, participou do debate e reafirmou o papel da Bahia como um ponto chave na relação estratégica com os Emirados e outras nações investidoras em tecnologias sustentáveis. Ela assinalou o potencial do Brasil para liderar a transformação energética global, com destaque para a atuação da Bahia no processo.
Biocombustível
Mediador do debate na FIEB, o vice-presidente de Relações Institucionais, ESG e Comunicação da Acelen, Marcelo Lyra, apresentou um resumo do projeto de biocombustível da companhia. Com investimento superior a US$ 3 bilhões e a construção de um centro de pesquisa genética, em Montes Claros (MG), a Acelen planeja utilizar mais de 180.000 hectares em terras degradadas para o plantio de macaúba para produção de biocombustível, em Minas Gerais e Bahia. A decisão final sobre as fontes de financiamento desse projeto deve ocorrer no segundo semestre de 2025. Para este e outros investimentos em biocombustível no Brasil, o país precisa dar respostas para o processo de regulamentação com maior celeridade, alertou Lyra.
Para concluir, é inegável o enorme potencial do Brasil e da Bahia para liderar a transição energética global, mas é preciso superar barreiras estruturais e regulatórias. A solução envolve investimentos em infraestrutura, inovação, armazenamento de energia, políticas públicas eficientes e capacitação da mão de obra para consolidar um setor de energia renovável, resiliente e competitivo.
* Lenilde Pacheco é jornalista especializada em Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável.