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Congresso Brasileiro do Algodão discute adaptação do plantio ao clima extremo

Publicado em 04/09/2024 às 09:03 edição Lenilde Pacheco


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Pesquisadores da Unesp e Embrapa falaram sobre a necessidade de mitigar o impacto das mudanças do clima

Os desafios climáticos para a produção do algodão brasileiro: da fisiologia da planta à dinâmica das pragas foram amplamente discutidos durante palestra, nesta terça-feira (03), durante o 14º Congresso Brasileiro do Algodão, promovido pela Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa). A programação prossegue até quinta-feira (dia 5), em Fortaleza (CE), com a participação de especialistas que discutem estratégias para o fortalecimento do algodão brasileiro nos mercados interno e externo.

A apresentação sobre o clima extremo reuniu os pesquisadores Odair Fernandes, da Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias da Universidade Estadual Paulista (FCAV/Unesp), e Cornelio Zolin, da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) Agrossilvilpastoril, além do consultor Ederaldo Chiavegato para abordar como intempéries podem impactar a produtividade e a sustentabilidade da cultura da fibra no país.

Mediado pela pesquisadora da Embrapa, Ana Luiza Borin, o painel abordou a produção agrícola, o desenvolvimento do algodoeiro e a dinâmica das pragas, considerando os fatores climáticos. “A agricultura é uma grande indústria a céu aberto, e discutimos como monitoramos e buscamos minimizar os riscos e impactos das mudanças climáticas nas lavouras de algodão”, disse.

A especialista apresentou dados históricos, atuais e projeções futuras para enfrentar esses desafios. Também apresentou dados relativos ao  comportamento da fibra de algodão frente às alterações de temperatura e à redução da precipitação. Além disso, abordou questões relativas às tecnologias disponíveis e como é possível utilizar essas soluções integradas para mitigar os impactos das mudanças climáticas”.

Para Cornélio Zolin, a adaptabilidade é crucial para a atividade agrícola, e o uso de técnicas conservacionistas é fundamental para aumentar a resiliência das práticas rurais. “Adaptar nossa fazenda a situações que estão se tornando cada vez mais frequentes é essencial”, destaca Zolin. Ele observa que, embora muitas variáveis no campo possam ser controladas, o clima não está entre elas. “É crucial ter clareza de que podemos controlar quase todos os fatores dentro da fazenda, exceto o clima. Se não podemos controlar esse fator, devemos adaptar nossas práticas para lidar com sua dinâmica e alcançar sucesso no sistema produtivo”, explica. Ele apresentou um estudo sobre o aumento significativo da temperatura no Cerrado, principal bioma do algodão brasileiro.

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Com o aumento das temperaturas, a fibra de algodão não atinge seu potencial produtivo ideal em condições de calor intenso. “A raiz torna-se um novo foco de investimento, uma vez que a fase de pré-florescimento é particularmente sensível ao estresse térmico”, explica Chiavegato. De acordo com o estudo apresentado, para cada aumento de 1ºC na temperatura, há uma redução de 100 kg/ha na produção de algodão. Outro desafio destacado pelo consultor é o micronaire, um índice que mede a finura e a maturidade da pluma após o beneficiamento. É uma característica intrínseca do algodão que afeta diretamente a qualidade do produto e sua aceitação nos mercados mais exigentes do mundo.

Além de impactar o desenvolvimento do algodoeiro, as flutuações nas temperaturas e nos regimes de chuvas afetam diretamente o desenvolvimento de pragas e doenças. Segundo Fernandes, é essencial adotar um manejo integrado e eficiente para minimizar as perdas na produção. “O aumento da temperatura pode levar a um crescimento da população de pragas, mudanças em seu comportamento, surtos de vetores e maior sobrevivência durante o inverno. Por isso, é crucial monitorar de forma adequada, implementar sistemas inteligentes de monitoramento, utilizar modelos preditivos e aplicar biossumos”, concluiu o pesquisador.