Lenilde Pacheco*

A Bahia ocupa o 4º lugar no ranking nacional do cultivo de eucalipto no país, seguindo Minas Gerais, Mato Grosso do Sul e São Paulo, de acordo com registros da Associação Baiana das Empresas de Base Florestal (Abaf), em 2023. No estado, o setor é responsável pela geração de aproximadamente 230 mil empregos diretos, indiretos. São 700 mil hectares de área plantada e manejo sustentável. Uma das empresas de destaque no setor é a Bracell, líder mundial na produção de celulose solúvel especial. Mantém plantios de eucalipto em 41 municípios do Litoral Norte, Agreste e Recôncavo da Bahia.

“A Bracell planeja, desenvolve e executa o processo produtivo florestal, desde a etapa de pesquisa, até o plantio de eucalipto, manutenção, colheita e transporte da madeira para abastecer a fábrica. Pode-se dizer que a Bahia, especialmente na região litorânea, tem uma vocação natural para a silvicultura por conta das condições climáticas, incluindo a precipitação pluviométrica, do relevo, da infraestrutura logística e da disponibilidade de mão-de-obra”, explica Edimar Domingos Filho, head florestal da Bracell Bahia.

Apenas a atividade florestal da Bracell é responsável pela manutenção de cerca de 2,7 mil empregos próprios e terceirizados, contribuindo para o desenvolvimento socioeconômico da região de atuação. A empresa tem sede administrativa florestal em Alagoinhas, um viveiro de mudas de eucalipto em Inhambupe e outro em Entre Rios, e uma fábrica em Camaçari. É responsável pela maior movimentação de carga do Porto de Salvador (BA).

Edimar Domingos afirma que o cultivo de eucalipto atende à demanda do mercado mundial por produtos de madeira. “O eucalipto é um recurso natural renovável, cresce rápido e atinge o ponto de corte aos 6 anos, além de adaptar-se facilmente a tipos de clima e solos diferentes. Isso faz com que seu cultivo contribua diretamente para a preservação dos remanescentes de mata nativa, que são poupados do corte para atender à demanda de pessoas em todo o mundo”, observa.

O executivo lembra ainda que a Bracell não desmata para plantar eucaliptos. “Pelo contrário, atuamos diretamente na recuperação de áreas degradadas e temos também o Compromisso Um-para-Um, de manter um hectare de mata nativa preservada para cada hectare plantado com eucalipto”, diz. A iniciativa, realizada em parceria com o poder público, envolve áreas próprias e públicas nas regiões de atuação da companhia.

Uma das técnicas para o alcance desta meta é a formação dos mosaicos florestais, que são plantios de eucalipto intercalados com áreas de mata nativa. “Este modelo de manejo agrega benefícios ambientais, pois viabiliza a preservação de milhares de hectares de mata nativa, onde vivem centenas de espécies da fauna e flora silvestres e manutenção dos mananciais. Uma evidência disso é a existência de mais de 1.750 nascentes nas áreas da empresa na Bahia”, informa Edimar, acrescentando que, pelo seu perfil de negócio, a atividade florestal é uma das atividades econômicas que mais atua diretamente na preservação da mata nativa.

O solo que proporciona a matéria-prima a partir de maciços florestais de rápido crescimento e alta produtividade requer manejo sustentável e proteção da biodiversidade, entre outras urgências da agenda socioambiental colocada em prática pela Bracell, na Bahia, desde 2003. A fabricante de celulose neutraliza esse impacto com um conjunto de ações reunidas na agenda ESG (do inglês, ambiental, social e governança) e conquistou selos como o Nordic Swan e o EU Ecolabel. As certificações reconhecem a redução do impacto ambiental na produção de celulose Kraft de eucalipto (com uso de solução alcalina para romper as fibras vegetais).

A Bracell também possui o Selo Ouro GHG Protocol, concedido a organizações que alcançam alto nível de qualificação e transparência na publicação de seus inventários de emissões de gases de efeito estufa, e o Reporting Matters 2023, conferido pelo Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (Cebds).

As iniciativas socioambientais da companhia estão reunidas no Programa Bracell 2030, construído para a proteção do clima e da biodiversidade, assim como para o desenvolvimento das comunidades, clientes e economia. A sustentabilidade foi conduzida ao centro das atividades da fábrica, alinhada aos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável da Organização das Nações Unidas (ONU).

As metas de sustentabilidade dão ênfase à redução em 47% do consumo de água por tonelada de produto nas Bacias Hidrográficas do Recôncavo Norte e Inhambupe, Rio Real e Itapicuru; e à diminuição em 90% dos resíduos sólidos industriais por tonelada de produto.

Mudanças climáticas

As operações para proteção do clima visam à redução de 75% nas emissões de carbono por tonelada de produto. Por isso, a companhia monitora as emissões atmosféricas de fontes fixas (chaminés) e registrou redução do material particulado do forno de cal de 45,1 mg/Nm³, em 2022, para 25,4 mg/Nm³, em 2023. A redução é de 44%, sendo que o limite estabelecido pela legislação é de 100 mg/Nm³.

As metas 2030 da Bracell foram elaboradas considerando a análise de riscos e impactos – positivos e negativos – das operações sobre as mudanças climáticas, assim como projeções e análises de cenários considerando projetos para redução de emissões e crescimento das atividades. As operações emitem GEE nos Escopos 1, 2 e 3, mas também capturam CO2 da atmosfera, por meio do crescimento dos plantios de eucalipto e proteção das áreas de vegetação nativa florestais sob gestão da companhia. O progresso das metas 2030 começou a ser monitorado em 2024 e reportado no Relatório de Sustentabilidade. De forma complementar, a empresa realiza práticas operacionais que impactam positivamente a agenda do clima.

Com o Programa de Monitoramento da Biodiversidade para Conservação da Fauna e Flora na Bahia, a Bracell registra a existência de 1.169 espécies, sendo 647 plantas e 522 da fauna. Dentre elas, 52 estão nas listas de espécies ameaçadas de extinção da União Internacional para a Conservação da Natureza e do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio).

A empresa possui quatro áreas de Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPNs) na Bahia: a Japurá e a Falcão, no município de Esplanada; a Pedra de São José, em Mata de São João; e a Lontra, que fica nos municípios de Itanagra e Entre Rios. Essas áreas somam aproximadamente 3.000 hectares de preservação, sendo a RPPN Lontra a maior delas, com 1.377 ha de Mata Atlântica preservada.

Futuro mais inclusivo

As ações para construção de um futuro mais inclusivo e sustentável incluem a valorização do capital humano, com a promoção da igualdade de oportunidades para as mulheres, como regem os princípios do empoderamento feminino da ONU. O propósito é elevar em 30% a proporção de mulheres em cargos de liderança e em 20% a renda das famílias que participam de projetos de geração de renda da companhia.

Além dos limites da fábrica, a Bracell mantém iniciativas para o relacionamento com a comunidade. São promovidos projetos sociais de impacto, dos quais 60% devem ser liderados por mulheres, fortalecendo o empreendedorismo feminino e a renda familiar. Essa política também abrange quetões, como a promoção da educação pública de qualidade. A meta é aumentar em 30% a proficiência em português e matemática nas escolas públicas apoiadas pela Bracell em áreas de municípios vizinhos, onde há registro de baixos índices de aprendizagem.

Governança

Na Bracell, a mais alta instância da governança corporativa é o Comitê Diretivo de Sustentabilidade. O órgão é responsável por decisões estratégicas de negócio, operações, avaliação de investimentos e acompanhamento do desempenho socioambiental. Semanalmente, cada um dos heads das áreas operacionais estratégicas da Companhia reportam os resultados corporativos para o Conselho de Administração. Para garantir padrões globais de comportamentos éticos esperados por organizações, clientes, parceiros de negócios e colaboradores, as diretrizes estão expressas nos valores fundamentais da companhia e no Código de Conduta da Bracell. Com transparência, o propósito é criar valor a longo prazo para a comunidade, clima, clientes, companhia e demais stakeholders.

*  Lenilde Pacheco é jornalista especializada em Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável.