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Brasil perde cerca de 40% da água tratada para consumo, aponta pesquisa da CNI

Publicado em 05/05/2022 às 08:03 edição Lenilde Pacheco


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Água tratada: perdas ao longo do trajeto - Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil

O Brasil possui 12% das reservas hídricas disponíveis em todo o planeta, sendo que, na América do Sul, estes recursos correspondem a 53% de toda a disponibilidade do subcontinente. No entanto, não é todo esse potencial hídrico que é aproveitado quando o assunto é água para consumo humano. Segundo levantamento feito pela Confederação Nacional da Indústria, 40% da água potável no país se perde em seu trajeto, seja por vazamentos ou por ligações clandestinas.

A pesquisa mostra que grande parte destes vazamentos ocorre por conta do material usado para as tubulações, pois estes, às vezes com mais de 40 anos, se deterioram através da pressão da água e da trepidação do solo. O processo de reforma das redes está em andamento, sendo os antigos tubos feitos a partir de ferro fundido sendo substituídos por material plástico, mais duradouro e flexível. Tais mudanças são influenciadas pelo novo Marco Legal de Saneamento Básico, aprovado em 2020 e que prevê a universalização dos serviços de água e esgoto até 2033.

Um levantamento feito pelo instituto Trata Brasil aponta que desde 2015 este tipo de desperdício é cada vez mais evidente, tendo aumentado 2,5 pontos percentuais entre os anos de 2015 e 2019. Tal quantidade de água, se fosse aproveitada, seria capaz de suprir a necessidade de cerca de 13 milhões de moradores que vivem em vulnerabilidade social, onde o sistema de saneamento não chega, pelo período de 3 anos.

A região Norte do país é a que mais enfrenta dificuldades com o saneamento e é também a que mais desperdiça água, tendo o estado do Amapá o que mais perde recursos hídricos.

Dados do Sistema Nacional sobre Informações de Saneamento (SNIS), do Ministério do Desenvolvimento Regional, demonstram que o percentual médio de desperdício entre os 417 municípios baianos também é elevado: se aproxima dos 39%  do total de água disponível para o estado.

Diagnóstico

David Capua, Consultor do Saneamento do Clube do Vazamento, acredita que, para além da questão estrutural das tubulações antigas, há outros fatores que ocasionam vazamentos nessas estruturas.

“Todas as ligações clandestinas feitas na rede de distribuição geram em algum momento vazamentos ocultos e perdas”, pontua. “Além disso, a burocracia do sistema atual cria entraves para a renovação da rede nos municípios. Soma-se a isso, o fato de ser uma obra pouco visível para a população acaba dificultando maiores investimentos públicos no setor”.

Nesse sentido, Adão Lisboa Gonçalves, Diretor Executivo do Clube do Vazamento, avalia que o processo de saneamento a partir do Marco Legal irá melhorar o panorama. “No Brasil, infelizmente, perdemos muito tempo tentando corrigir problemas depois que ocorreram, por falta de planejamento e projetos de manutenção preventiva. Assim que conseguirmos inverter essa lógica, teremos serviços executados com mais qualidade e que beneficiará toda a sociedade”, afirma o profissional.

O alto índice de desperdício de água tratada decorrente de vazamentos, para Capua, “traz impacto negativo para o meio ambiente, para a receita e para os custos das empresas, prejudicando o sistema como um todo, e em última instância afetando todos os consumidores”.

Experiência positiva

Consoante com esta afirmação, Édison Carlos, presidente executivo do Instituto Trata Brasil, pontua a importância de que os governantes estejam atentos e a postos para sanar este tipo de problema, pois a perda de quase metade dos recursos implica em cada vez mais ser necessário buscar água na natureza, acentuando a escassez de recursos. Em períodos de pandemia e pouca chuva, tal atenção tem grande impacto para os cofres públicos e para a saúde da população.

Mas tal porcentagem não diz respeito a todos os estados e cidades como um todo. Vale ressaltar que cuidados com o abastecimento das residências com água potável acarretam em pouca perda de recursos, como a cidade de Santos, que ocupa o primeiro lugar no ranking de cidades que menos desperdiçam água, 11,94%. Entre as dez cidades que melhor cuidam da distribuição de água, também se encontram Limeira, com apenas 12,25% de desperdício, e Petrópolis, no Rio de Janeiro, com 22% de perda.