img
img

Agropecuária cresce 258% no Matopiba e hoje ocupa área maior que o Amapá

Publicado em 01/10/2021 às 07:26 edição Lenilde Pacheco


img

Expansão da área cultivada foi de 258% com auxílio da irrigação - Foto: Embrapa

A região de Cerrado brasileiro denominada Matopiba (abrange Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia) mais que dobrou a área destinada à agropecuária nos últimos 36 anos. Em um aumento de 258%, passou de 5,6 milhões de hectares para 14,6 milhões de hectares destinados à atividade, área superior a do estado do Amapá. Os dados são da nova coleção da iniciativa MapBiomas.

Além dos números, as imagens de satélite mostram os impactos da intensificação do desmatamento e da atividade agropecuária. Campeã no aumento relativo da área de agricultura no Cerrado, a Bahia quintuplicou esse tipo de uso do solo de 1985 a 2020. Já o Piauí triplicou a área agrícola no trecho do bioma a partir do final da década de 1990. Tocantins sofreu a maior perda de vegetação nativa do Cerrado nos últimos dez anos (1,11 milhão de hectares), seguido de Maranhão (890 mil hectares).

“Os dados mostram claramente que há um processo acelerado de conversão de áreas naturais no Matopiba, tal como foi observado anteriormente em outros estados do Cerrado”, explica a coordenadora científica do MapBiomas, Julia Shimbo, pesquisadora do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia. Se considerada a perda total de vegetação nativa desde 1985, Mato Grosso é o campeão, com 6,8 milhões de hectares, seguido por Goiás, com 4 milhões hectares, e Mato Grosso do Sul, com 3,4 milhões de hectares.

Leia mais: Embrapa realiza estudos na região

O Cerrado é o segundo maior bioma do Brasil, com 198 milhões de hectares, e apresenta diferentes tipos de vegetação nativa. Como hotspot de biodiversidade, é a savana mais biodiversa do mundo e está sob elevado grau de ameaça. Quase metade já foi desmatada: 54,5% de seu território ainda é coberto por vegetação nativa, sendo que 44% encontra-se justamente no Matopiba.

O que sobrou no Cerrado está distribuído em diferentes formações. As principais são savana (30,3%), floresta (14,3%) e formação campestre (7,3%).

Bioma em crise

De 1985 a 2020 o Cerrado perdeu 19,8% de sua vegetação nativa, ou 26,5 milhões de hectares, que equivalem a uma área maior que a do Piauí. A expansão da agropecuária no bioma no mesmo período é quase complementar: foram 26,2 milhões de hectares destinados à atividade. Atualmente, a agropecuária ocupa 44,2% do Cerrado.

Uma das novidades da Coleção 6 do MapBiomas é a inclusão da nova classe de áreas úmidas do Cerrado, como campos úmidos, veredas, savanas parques e brejos, que representam 2,5% dos remanescentes. Também esses ambientes têm sofrido transformações: foram 582 mil hectares suprimidos desde 1985, ou 10,3% de perda das áreas alagadas. Dessa área convertida, 61% foram destinados à agropecuária, especialmente pastagem, e 32% viraram outro tipo de vegetação, como campo, savana e até floresta.

Sobre o MapBiomas

Iniciativa multi-institucional que processa imagens de satélites com inteligência artificial e tecnologia de alta resolução em uma rede colaborativa de especialistas, universidades, ONGs, instituições e empresas de tecnologia para a criação de séries históricas e mapeamentos de uso e cobertura da terra no Brasil. O IPAM é a instituição responsável pelo mapeamento da vegetação nativa no bioma Cerrado dentro da rede MapBiomas.

Escassez de água

Autor de estudo sobre ‘A Questão Ambiental e a Expansão da Fronteira Agrícola na Direção do Matopiba Brasileiro”, o especialista em desenvolvimento econômico e professor Junior Ruiz Garcia assinala que a área é considerada importante fronteira agrícola, embora enfrente restrições ambientais fortes. A ocupação da área pode contribuir para o aumento da produção agrícola e pecuária brasileira, mas este processo deve basear-se em investimento em ciência e tecnologia, alerta o pesquisador.

Garcia (2017) assinala que os problemas ambientais estão associados ao aumento da pressão sobre o uso dos recursos naturais, em especial os recursos hídricos. Desse modo, o avanço da agricultura precisa incorporar os custos ambientais; deve ser acompanhado por profundo estudo sobre disponibilidade hídrica, considerando as mudanças no uso e cobertura da terra, o aumento da demanda hídrica e os potenciais efeitos das mudanças climáticas globais, mas também na escala local e regional. Apesar da possibilidade de uso de sistemas de irrigação, como ocorre na Bahia, o avanço ainda esbarra na disponibilidade hídrica.

O estudo mostra que o processo de desertificação em curso: estágio moderado foi identificado em 9 milhões de hectares; a área considerada núcleo de desertificação possui 591 mil hectares e sinaliza as dificuldades para expansão dos sistemas de irrigação. Além disso, essas informações revelam que 9,6 milhões de hectares do Matopiba necessitam urgentemente de novos investimentos em gestão do solo para barrar a desertificação.

A íntegra do estudo do professor Junior Ruiz Garcia – em PDF – está disponível aqui.