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Cidades brasileiras precisam de ações urgentes para resistir às mudanças climáticas

Publicado em 31/05/2022 às 12:49 edição Lenilde Pacheco


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Recife: ocupação nas encostas e nos aterros de rios e mangues - Foto: TV Brasil

Os eventos climáticos extremos que atingiram estados brasileiros, nos últimos seis meses, causaram mortes, destruição da infraestrutura, perdas econômicas e abalo à saúde de milhares de moradores das áreas atingidas. O sul da Bahia ficou submerso em dezembro e, desde então, as tragédias repetiram-se em Minas Gerais, São Paulo, Petrópolis (RJ) e, agora, com a estarrecedora inundação na região metropolitana do Recife.

As chuvas torrenciais acima da média com consequentes enxurradas, erosões e deslizamentos, desafiam as autoridades nas três esferas de governo: municípios, estados e governo federal. Tanto que a Confederação Nacional de Municípios (CNM) procurou quantificar os prejuízos, em busca de diagnóstico e estratégias que ajudem a construir o futuro.

Levantamento da CNM mostra que os danos causados pelo excesso de chuvas e também pela seca no Brasil, entre 2013 e 2022, somaram prejuízos que ultrapassam R$ 341 bilhões. Para a confederação é preciso compartilhar responsabilidades com Estados e União porque os municípios não dão conta da recuperação das cidades brasileiras.

De acordo com o Painel Intergovernamental das Mudanças Climáticas da Organização das Nações Unidas (IPCC, sigla em inglês), entre os anos de 2010 a 2020, o número de mortes causadas por inundações, secas e tempestades foi 15 vezes maior. Somente nos últimos de seis meses, a contar das inundações no sul da Bahia, mais de 400 brasileiros perderam a vida.

Os meteorologistas explicam que a região metropolitana do Recife foi atingida pelo excesso de chuva desencadeado pelo fenômeno chamado de ‘piscina quente’ — quando os ventos encontram alta temperatura em uma região do oceano, sempre superior a 27ºC — mais quente que o normal.

Quando um fator climático dessa natureza somar-se às falhas no planejamento urbano e à destruição de ecossistemas, o desastre certamente está a caminho. Um bom e urgente diagnóstico de vulnerabilidades, identificação de prioridades e transição para um modelo urbano sustentável contribui para a formulação de respostas mais eficazes.

Maior vulnerabilidade

Os municípios brasileiros situados em zonas costeiras são muito mais vulneráveis às mudanças climáticas, ao aumento do nível do mar e às fortes chuvas, tempestades, inundações e erosão costeira, que tanta destruição causa à infraestrutura dessas localidades.

É o que aponta o relatório especial Impacto, Vulnerabilidade e Adaptação das Cidades Costeiras Brasileiras às Mudanças Climáticas, que o Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas (PBMC) divulgou em 5 de junho de 2017. Este é o segundo documento sobre mudanças climáticas e cidades elaborado pelo organismo científico criado em 2009 pelos ministérios da Ciência, Tecnologia e Inovação e Meio Ambiente.

No relatório, foram avaliados os cenários de mudanças climáticas para o Brasil e como essas cidades poderão ser impactadas pelo aquecimento global. De acordo com o estudo, 18 das 42 regiões metropolitanas brasileiras se encontram na zona costeira ou sofrem influência dela. O documento abordou municípios costeiros das regiões Nordeste, Sudeste e Sul. Entre as cidades mais vulneráveis estão o Rio de Janeiro, Santos, Fortaleza, Recife, Salvador e, no Sul do Brasil, o Vale do Itajaí.

Deve-se observar que Recife possui particularidades como um tipo de ocupação urbana nas encostas e também onde avançou aterrando uma área de rios, manguezais ou espaços de vegetação para construir prédios ou casas.

O acelerado processo de ocupação desordenada é absolutamente inadequado. No que se refere à ocupação de encostas, por exemplo, metrópoles como Salvador, Recife, Rio de Janeiro, São Paulo e Belo Horizonte apresentam concentração populacional em vertentes com mais de 70 graus de declividade. “As edificações não obedecem a critérios técnicos e podem colocar em risco seus habitantes”, alertou, já em 2008, o geógrafo Wagner Costa Ribeiro, especialista em Ciência Ambiental.

Inegável que diante dos sucessivos desastres urbanos, as cidades que mais rapidamente traçarem um perfil de suas vulnerabilidades e fizerem a definição de estratégias de adaptação, estarão melhor preparadas para enfrentar as próximas décadas.

É vasto o conjunto de alternativas de mitigação: revisão das encostas; edificações ecoeficientes; tecnologias mais eficientes para iluminação pública; aumento da reciclagem; melhor gestão dos resíduos sólidos; educação ambiental; preservação de áreas verdes; incentivo ao transporte que minimize a emissão de gases do efeito estufa e a indispensável utilização de novas matrizes energéticas, entre outras detalhadamente apresentadas por especialistas.

A infraestrutura urbana adaptada melhor resistirá aos efeitos das mudanças climáticas. Diante da emergência climática, os gestores que não agirem com rapidez e eficiência para remodelar áreas urbanas, precisarão estar atentos ao custo muito mais elevado a ser pago em todos os lugares onde a força da enxurrada encontrar fragilidades.

Por: Lenilde Pacheco/Desafio Ambiental