Proteção para árvores gigantes é prioridade, defendem pesquisadores
Publicado em 22/07/2024 às 07:24 edição Lenilde Pacheco
Proposta em discussão visa criar uma área protegida para as árvores gigantes - Foto: Fernando Sette
Descoberta em 2022, uma gigante da natureza amazônica – um angelim-vermelho (Dinizia excelsa) com 88,5 metros de altura e 3,15 metros de diâmetro, enraizado em solo paraense – segue atraindo a atenção de pesquisadores. O registro oficial, feito in loco por uma equipe de cientistas, estabeleceu esse espécime monumental como a maior árvore da América do Sul e a quarta maior do mundo.
O angelim-vermelho está localizado na Floresta Estadual do Paru (Flota do Paru), Oeste do Pará, a mais de 800 km de distância da capital, Belém. Ao redor dele, já foram identificadas também, ao menos, 38 árvores de grande porte, duas delas com mais de 80 metros. Trata-se da maior incidência de árvores gigantes na Amazônia, um indicador da rica biodiversidade do território, o que o torna prioritário nos planos de proteção do bioma amazônico.
Cerca de dois anos depois, em maio de 2024, uma nova expedição foi realizada na região, dessa vez com o objetivo de aprofundar análises físicas e biológicas para estabelecer uma área protegida com foco na conservação de árvores gigantes da Amazônia. Entre os destaques dessa incursão científica está a descoberta de outro santuário de árvores gigantes nessa porção da Amazônia.
A iniciativa de conservação é liderada pelo Governo do Pará, por meio do Instituto de Desenvolvimento Florestal e da Biodiversidade (Ideflor-Bio) e conta com a parceria do Instituto Federal do Amapá (IFAP), Fundação Amazônia Sustentável (FAS) e financiamento do Andes Amazon Fund (AAF).
O presidente do Ideflor-Bio, Nilson Pinto, destacou que a descoberta do angelim-vermelho na Flota do Paru é um testemunho da grandiosidade e da rica biodiversidade da Amazônia. “Com 88,5 metros de altura, essa árvore monumental não só é a maior da América do Sul, mas também simboliza a importância da preservação desse ecossistema único. A recente expedição de 2024 reforça nosso compromisso em proteger essas áreas prioritárias, e a criação de uma área protegida dedicada às árvores gigantes é um passo crucial. O Governo do Pará, por meio do Ideflor-Bio, assim como nossos parceiros, estamos determinados a garantir que essas maravilhas naturais sejam preservadas para as futuras gerações”, enfatizou.
A expedição
A expedição científica foi uma das etapas fundamentais do projeto. Nela foram coletados dados para a amostragem e caracterização da área florestal de 560 mil hectares, que abrange uma zona de concentração das árvores gigantes, e vão dar mais subsídios para a transformação parcial da Flota do Paru em uma nova área de proteção integral.
Entre os dias 16 e 30 de maio, um time multidisciplinar de pesquisadores e técnicos do Ideflor-Bio, IFAP e FAS percorreu rios e trilhas da Flota do Paru rumo ao local onde está o gigantesco angelim-vermelho. O espécime, assim como outras árvores colossais da região, destaca-se do dossel da floresta (cuja altura média varia de 30 a 40 metros). Estima-se que esse exemplar tenha cerca de 400 anos de existência.
Novo santuário
A equipe da expedição realizou o levantamento de dados em seis parcelas experimentais da floresta (que medem 2.500 m² cada), para a amostragem do perfil do solo e inventário da fauna terrestre e florestal, como o macaco bugio-vermelho, araras-canindé e mesmo um grupo de mutuns-grandes, cujo registro foi capturado em uma das câmeras noturnas do projeto (ver imagem abaixo). Também foram feitos inventários da fauna aquática no Rio Jaru e seus afluentes, dentro do perímetro definido para a nova área de proteção ambiental.
A partir dessas parcelas, os cientistas encontraram novos exemplares de árvores gigantes, incluindo angelins-vermelhos e outras espécies, com alturas acima de 65 metros. A árvore mais alta registrada nessa expedição mede aproximadamente 73 metros de altura e tem um diâmetro de 3 metros de largura.
O achado de um novo santuário de árvores de grande porte indica que a ocorrência de árvores gigantes é mais frequente e dispersa no território do que o esperado, aumentando a importância da proteção de mais de 560 mil hectares de floresta primária.
O engenheiro florestal e professor do IFAP, Diego Armando Silva, ressalta que a descoberta do novo santuário reforça a relevância ecológica da região, evidenciando a necessidade de sua preservação através da criação da Unidade de Conservação com foco na proteção de árvores gigantes da Amazônia. “A criação da Unidade Conservação não só protegerá essas árvores monumentais, mas também promoverá a pesquisa científica e a sustentabilidade na região”, explica.
Combate à crise climática
As árvores gigantes da Amazônia representam um papel-chave na manutenção da biodiversidade e no equilíbrio ecológico do bioma. Esses espécimes de grande porte atuam na regulação do clima, absorvendo grandes quantidades de carbono da atmosfera e ajudando a mitigar os impactos da crise climática.
As gigantes são abrigo, lar e oferecem condições de vida para uma vasta gama de espécies de fauna e flora, contribuindo para a proteção da diversidade biológica regional. São um verdadeiro patrimônio cultural, histórico e científico, e podem fornecer valiosas informações sobre o passado da Amazônia, além do potencial para novos estudos e descobertas em inovação e tecnologia.
Por isso, os planos de conservação das árvores gigantes da Amazônia são tão relevantes. Os esforços conjuntos de governos regionais e da sociedade civil salvaguardam não apenas o futuro do bioma, como também promovem o bem-estar das comunidades locais e globais que precisam da floresta amazônica viva e em pé.
Unidade de Conservação
Uma vez concluídos os estudos e relatórios técnicos, o governo do Pará realizará consulta pública com os moradores de Monte Dourado, município que abrange essa porção da floresta, a respeito da criação da Unidade de Conservação das Árvores Gigantes.
As ações são apoiadas pelo projeto “Árvores gigantes para uma nova era – áreas protegidas no estado do Pará”. Além do estabelecimento dessa Unidade de Conservação com foco em espécies de expressiva relevância ecológica, o projeto visa fornecer assistência técnica aos órgãos ambientais do estado para fortalecimento e apoio na criação e consolidação de outras Unidades de Conservação no Pará, e avaliar demandas e novas oportunidades para outras medidas efetivas de conservação da floresta amazônica.
“É uma honra para a FAS prover apoio técnico e buscar parceiros financiadores para intensificar as ações de conservação e proteção no estado do Pará. A recategorização parcial da FLOTA é muito simbólica e representa o comprometimento do estado com a conservação da Amazônia”, ressalta Victor Salviati, superintendente de Inovação e Desenvolvimento Institucional da FAS.
Sobre o IDEFLOR-BIO
Com sede em Belém (PA), mas com circunscrição em todo o estado, o Instituto de Desenvolvimento Florestal e da Biodiversidade do Estado do Pará (IDEFLOR-Bio) é uma entidade de direito público, constituída sob a forma de autarquia, com autonomia técnica, administrativa e financeira. O Instituto busca exercer a gestão das florestas públicas visando a produção sustentável e a preservação da biodiversidade, incluindo entre suas funções a gestão da política estadual para produção e desenvolvimento da cadeia florestal; e a execução das políticas de preservação, conservação e uso sustentável da biodiversidade, da fauna e da flora terrestres e aquáticas no estado.
Sobre o IFAP
O Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Amapá (Ifap) é uma instituição de ensino superior e técnico brasileira, sediada no estado do Amapá. O instituto foi criado mediante a transformação da Escola Técnica Federal do Amapá. Sua reitoria está sediada em Macapá. Atualmente, possui campus nos municípios de Macapá, Santana, Laranjal do Jari, Oiapoque, Porto Grande e um centro EAD em Pedra Branca do Amapari.
Sobre a FAS
A Fundação Amazônia Sustentável (FAS) é uma organização da sociedade civil sem fins lucrativos que atua pelo desenvolvimento sustentável da Amazônia. Sua missão é contribuir para a conservação do bioma, para a melhoria da qualidade de vida das populações da Amazônia e valorização da floresta em pé e de sua biodiversidade. Com 16 anos de atuação, a instituição tem números de destaque, como o aumento de 202% na renda média de milhares famílias beneficiadas e a queda de 39% no desmatamento em áreas atendidas.
Sobre o Andes Amazon Fund
O Fundo Andes Amazônia (Andes Amazon Fund) protege paisagens naturais com biodiversidade rica ou única nas regiões dos Andes e da Amazônia. A organização apoia a criação e a expansão de áreas protegidas e o reconhecimento legal de terras indígenas com uma abordagem integrada em que a natureza e os povos locais possam florescer. Entre as principais atividades da organização, está o apoio à expansão do conjunto de áreas protegidas em nível nacional, regional e local; e melhorar o gerenciamento dessas terras com o fornecimento de recursos financeiros.