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ICMBio discute cooperação para maior segurança em Unidades de Conservação

Publicado em 25/12/2025 às 15:03 edição Lenilde Pacheco


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Técnicos apontam necessidade de consolidar ações de prevenção, responsabilidade compartilhada e comunicação - Foto: Gov/RS

Brasil vive um expressivo crescimento da visitação em Unidades de Conservação (UCs), impulsionado pela consolidação da Rede Nacional de Trilhas e Conectividade e a Política Nacional de Incentivo à Visitação a Unidades de Conservação. Somente os Parques Nacionais federais registraram mais de 12,5 milhões de visitas em 2024, o maior número da série histórica. O total monitorado de visitantes em UCs federais ultrapassou 25,5 milhões de pessoas, um aumento de 4,9% em relação a 2023. A visitação nacional já supera 15 milhões de pessoas por ano, distribuídas em mais de duas mil unidades de conservação.

​​Diante desse cenário, o Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA), Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), Ministério do Turismo (MTur), Corpo de Bombeiros Militar do Paraná (CBMPR), Defesa Civil do Paraná, Corpo de Socorro em Montanha (COSMO), e Fórum do Sistema Nacional das Unidades de Conservação (FSNUC) realizaram o I Seminário sobre Segurança nas Atividades de Visitação em Áreas Naturais.

A expansão do turismo de natureza exige políticas de Estado capazes de acompanhar a transformação do perfil do visitante brasileiro. Para o diretor do Departamento de Áreas Protegidas do MMA, Pedro Menezes, o Seminário se insere em um esforço mais amplo de construção de doutrina nacional para a segurança em ambientes naturais. Ele ressalta que, apesar de as instituições já acumularem experiências relevantes, o país ainda carece de referencial comum capaz de orientar ações coordenadas.

Menezes também apresentou duas premissas estruturantes que perpassaram toda a programação. A primeira: o direito ao risco é sagrado, elemento essencial da relação do ser humano com a natureza e da própria existência das atividades de aventura, montanhismo e longa duração; a segunda: informação de qualidade é a base da prevenção. Entre esses dois extremos, “o direito ao risco e o dever de prevenir, se constrói o espaço de atuação das políticas públicas”, afirmou o diretor.

Cooperação

A diretora de Criação e Manejo de Unidades de Conservação do Instituto, Iara Vasco, reforçou que a ampliação da visitação e a diversificação dos perfis de público elevam a necessidade de integração institucional. “A forma como trabalhamos integrados, instituições federais, estaduais, Defesa Civil, Corpo de Bombeiros e organizações voluntárias, é determinante para fortalecer a cooperação e a capacidade de minimizar riscos. Tragédias nos convocam a revisar práticas, aprender e evoluir. Este encontro trata da vida, da alegria e do bem-estar que as áreas protegidas devem proporcionar”, disse a diretora.

A presença de todos os estados da federação, com diferentes realidades e níveis de maturidade na implementação de protocolos, evidenciou um consenso: a segurança na visitação não é um tema setorial, mas transversal, envolvendo biodiversidade, turismo, proteção civil, ordenamento territorial e economia local.

Gestão de riscos

O debate sobre prevenção ganhou densidade com a apresentação de Carla Guaitanele, coordenadora geral de Uso Público e Serviços Ambientais do ICMBio. Ela ressaltou que, para além de casos isolados ou incidentes específicos, o país precisa consolidar pensamento sistêmico sobre prevenção, responsabilidade compartilhada e comunicação estratégica com os visitantes.

Ao explicar o funcionamento interno das ferramentas institucionais, Carla destacou as ferramentas da autarquia. “Em unidades de alta visitação ou com concessões, aplicamos o Sistema de Gestão de Segurança (SGS); em outras, escalonamos quando usar o SGS completo ou o protocolo de gestão de segurança da visitação”, diz. Segundo ela, a abordagem preventiva é o eixo central: “Nosso foco é levantar perigos, riscos, causas e consequências para prevenir cada vez mais e saber como agir em emergências”. Carla ressaltou ainda que o Protocolo de Gestão de Segurança da Visitação (PGSV) utilizado pelo Instituto é uma adaptação de referências internacionais consolidadas, reforçando a importância de metodologias robustas.

Guaitanele lembrou que o crescimento da visitação, somado à popularização das trilhas de longo curso e ao aumento de atividades incentivadas por redes sociais, cria novos desafios para equipes de campo. O cenário inclui desde selfies em bordas de cânions até travessias complexas sem preparo técnico, exigindo sinalização mais clara, comunicação preventiva eficaz e monitoramento constante.

Estratégia nacional

Ao longo do Seminário, gestores apresentaram iniciativas concretas que já demonstram os benefícios da integração. O Parque Nacional da Tijuca (RJ) mostrou como mapas interativos, georreferenciamento e sinalização padronizada reduziram incidentes e ampliaram a autonomia dos visitantes. No Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros (GO), exercícios simulados envolvendo bombeiros, brigadistas, servidores e guias locais têm diminuído significativamente o tempo de resposta a ocorrências em ambientes remotos.

Esses exemplos reforçaram a necessidade de diretrizes nacionais de sinalização, protocolos unificados de acionamento, planejamento preventivo institucionalizado e modelos replicáveis de baixo custo para todos os biomas.  .

A construção de uma rede nacional de prevenção e resposta emergiu como eixo transversal do seminário. Representantes da Defesa Civil e dos Corpos de Bombeiros enfatizaram que a segurança depende de coordenação de inter-agências, fluxo claro de comunicação e responsabilidade compartilhada com operadores turísticos.

Foi nesse contexto que trechos das falas de Menezes sobre interoperabilidade voltaram a orientar discussões técnicas: a necessidade de “levar o modelo aos estados de forma massiva”, alinhando protocolos ainda distintos entre si e promovendo integração especialmente em mosaicos, apontados por ele como “um bom locus para começar a implementar soluções conjuntas”.

Programas consolidados de capacitação conjunta, como os realizados na Serra do Mar, no Lagamar e nas serras do Sudeste, foram apresentados como referências que devem se tornar modelo nacional: treinamentos técnicos, manejo de trilhas, busca e salvamento, resgate em altura e atendimento pré-hospitalar em ambientes remotos.

Cooperação interinstitucional

O último dia do evento contou com uma atividade de campo organizada pelo Grupo Voluntário de Busca e Salvamento – Grupo Socorro em Montanha (COSMO), no Parque Estadual Marumbi, onde os participantes puderam sedimentar diálogos iniciados no seminário, enriquecer as trocas e conhecer do trabalho de referência voluntária desenvolvido na prevenção de acidentes, busca e resgate em conjunto com demais órgãos competentes.

A iniciativa contou com apoio do Projeto GEF Áreas Privadas, coordenado pelo MMA, que promove a conservação da biodiversidade e da paisagem por meio do uso sustentável da terra em propriedades particulares, onde se concentram mais da metade da vegetação nativa do país. O evento compõe uma das ações do componente 3, que atua com o fortalecimento de políticas públicas de conservação, incluindo o fortalecimento da governança da RedeTrilhas.

Somando à parceria, também o Instituto Água e Terra do Paraná (IAT/PR), Instituto Estadual do Ambiente do Rio de Janeiro (INEA-RJ), da Secretaria de Estado do Ambiente e Sustentabilidade do Rio de Janeiro (SEAS-RJ), da Fundação Florestal de São Paulo, Instituto Semeia, e da Associação Rede Brasileira de Trilhas.