Desafio Ambiental: Confira resultados alcançados com a COP30 e o que faltou
Publicado em 23/11/2025 às 14:02 edição Lenilde Pacheco
COP30: protagonismo da Amazônia fortalece as ações para proteção do bioma - Foto: Fábio Rodrigues Pozzebom/ABr
Após duas semanas de trabalhos e negociações da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, em Belém, o Desafio Ambiental reúne os principais resultados da COP30, entre eles, o protagonismo da Amazônia, um bioma crucial para a proteção do clima. A agenda de debates manteve o Brasil ao centro das negociações sobre mudanças climáticas.
O evento representou uma oportunidade histórica para o País reafirmar seu papel de liderança na sustentabilidade, debater temas como redução de emissões, financiamento climático e justiça climática, além de envolver a sociedade civil e os povos indígenas na busca por soluções. Demonstrou a capacidade do país de integrar desenvolvimento econômico com preservação ambiental e apresentar soluções, como os esforços em áreas como energias renováveis, agricultura de baixo carbono e desmatamento zero.
Financiamento para adaptação
Um dos destaques da COP30 foi o acordo para triplicar o financiamento para adaptação climática. Esse financiamento é essencial para países vulneráveis, que já sentem fortemente os impactos das mudanças climáticas (enchentes, secas, temperatura, eventos extremos). No entanto, o prazo para essa mobilização ficou estendido: alguns acordos falam em meta até 2035, o que pode atrasar a ajuda efetiva. Além disso, os detalhes de quem vai pagar, como será distribuído e quais são os mecanismos concretos ainda são pouco claros.
Falta de compromisso para descarbonização
Um ponto muito criticado: o texto final não menciona explicitamente a eliminação ou redução de combustíveis fósseis. Embora mais de 80 países apoiassem a elaboração de um mapa do caminho para a transição de combustíveis fósseis, países produtores (Rússia e Golfo) se opuseram fortemente. Para contornar isso, foram anunciados processos paralelos (fora do texto formal da ONU) para elaborar mapas (“roadmaps”) voluntários: um para a transição justa de combustíveis fósseis, outro para acabar/reverter o desmatamento. O risco é que esses roadmaps paralelos não tenham a mesma força nem a mesma responsabilização que um compromisso formal na convenção da ONU.
Meta de adaptação
Foram propostas 59 indicadores globais para monitorar o progresso da adaptação climática. Contudo, há resistência política. Alguns países (especialmente da África) querem adiar a decisão final para 2027, argumentando que ainda é cedo para definir todos os indicadores. Isso pode comprometer a implementação efetiva: se os indicadores não forem bem definidos ou se não houver consenso, a adaptação pode continuar sem métricas fortes ou metas claras.
Transição justa
Foi criada uma mecânica para apoiar a “transição justa”: ou seja, apoiar trabalhadores e comunidades que dependem de combustíveis fósseis na transição para uma economia de baixo carbono. A medida é importante para que a descarbonização não cause desemprego massivo ou injustiças sociais, especialmente em países que dependem fortemente da indústria fóssil.
Finanças climáticas mais amplas
Discute-se a mobilização de US$ 1,3 trilhão até 2035. Essa meta é ambiciosa, mas, novamente, faltam muitos detalhes sobre como será operacionalizada, quais fontes (públicas, privadas), como garantir previsibilidade para países mais pobres. Detalhes permaneceram vagos.
Reconhecimento dos povos indígenas e florestas
Houve avanços simbólicos e práticos: delegados indígenas foram reconhecidos como atores centrais na proteção florestal. O Brasil destacou compromissos com desmatamento ilegal: O vice-presidente da República, Geraldo Alckmin, por exemplo, reafirmou que o Brasil pretende “zerar o desmatamento ilegal até 2030”. Foi lançado o Fundo “Tropical Forest Forever” (Florestas Tropicais para Sempre), com capital prometido para conservar a Amazônia — embora os compromissos exatos e a governança ainda precisem ser acompanhados de perto.
Segurança e infraestrutura do evento
Um incidente bastante grave: houve um incêndio em pavilhões da COP em Belém, que levou a evacuações e causou preocupação sobre segurança no local. O fato colocou em xeque a preparação da infraestrutura para um evento desse porte, bem como a credibilidade logística.
Avanços
Compromisso real com adaptação: triplicar os fundos de adaptação mostra que há um reconhecimento importante de que muitos países já estão sofrendo os impactos do clima. É positivo ver que a adaptação — muitas vezes menos “atraente” politicamente que a mitigação — ganhou protagonismo.
Justiça climática: A introdução de uma transição justa é uma boa notícia. Isso pode evitar que a transição energética agrave desigualdades.
Participação simbólica local: Sediar a COP na Amazônia (Belém) tem valor simbólico muito forte, destacando a importância das florestas e dos povos indígenas no debate climático global.
Governança para florestas: O fundo para florestas tropicais pode ser uma ferramenta poderosa se bem administrado — pode atrair recursos privados e públicos para conservação, restauração, proteção de comunidades indígenas.
Riscos para o Futuro
Risco de desmobilização: Se os países perceberem que os compromissos são vagos ou de longo prazo, podem haver retrocessos ou falta de vontade para cumprir metas ambiciosas.