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Crise Climática: Rotação de culturas contribui para solos mais resilientes

Publicado em 03/07/2025 às 07:54 edição Lenilde Pacheco


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Integracao lavoura-pecuária-floresta: produção de grãos, carne e sequestro de carbono em árvores - Foto: Tony Oliveira/CNA

Estudos desenvolvidos pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq-USP) demonstram que técnicas de manejo sustentável do solo podem elevar a fixação de carbono, impulsionar a produtividade agrícola e mitigar os efeitos das mudanças climáticas. O tema, investigado há mais de 20 anos no Brasil, integra o programa Soluções Baseadas na Natureza da universidade e ganha urgência diante da crise climática global.

Maurício Cherubin, professor da Esalq e coordenador do programa, destaca que o País é líder mundial na adoção de práticas conservacionistas, como o sistema plantio direto — que evita o revolvimento do solo e preserva resíduos vegetais da safra anterior. “Temos 35 milhões de hectares usando essa técnica, área equivalente ao território da Alemanha”, afirma. Além disso, o Brasil avança na integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF), com 17 milhões de hectares, modelo que combina produção de grãos, carne e sequestro de carbono em árvores.

Cherubin cita pesquisas de longa duração, como as do professor Cimério Baier (UFRGS), que comprovam acúmulo de carbono no solo mesmo após 40 anos de manejo sustentável — contrariando estudos europeus e norte-americanos que indicavam saturação em duas décadas. “No Brasil, pelas condições climáticas e de solo, esse potencial persiste”, explica. Esses dados embasam políticas como o Plano ABC (Agricultura de Baixo Carbono) e atraem investimentos privados em agricultura regenerativa.

Aumento de produtividade

Além do sequestro de carbono, as práticas elevam a produtividade em até 15% e aumentam a resiliência das lavouras. “Solos mais saudáveis toleram melhor estresses climáticos, como secas ou excesso de chuva”, diz o professor. Experimentos em Mato Grosso, Paraná e Rio Grande do Sul mostram que a diversificação de culturas — como rotação com cover crops (plantas de cobertura) — melhora a estabilidade produtiva, reduzindo riscos para o agricultor.

Para Cherubin, a adaptação do setor agrícola é urgente, especialmente em regiões como o Rio Grande do Sul, onde extremos climáticos se alternam entre estiagens e enchentes. “O produtor está buscando informações porque sente na pele. Em seis safras, o Estado teve perdas por seca e agora por inundações”, alerta. O pesquisador defende que as práticas de manejo sustentável são “um amortecedor” contra esses eventos, combinando mitigação e adaptação.

Iniciativas como o Centro de Estudos de Carbono em Agricultura Tropical (CCARBON) e parcerias com o Research Centre for Greenhouse Gas Innovation (RCGI) buscam consolidar o Brasil como referência em soluções climáticas no agro. “Precisamos de lastro científico para garantir segurança aos investimentos”, conclui o professor, reforçando o papel estratégico do País na agenda global de sustentabilidade.

Fonte: Jornal da USP