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Sustentabilidade e inovação aproximam indústria têxtil do consumidor

Publicado em 06/11/2024 às 13:34 edição Lenilde Pacheco


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Setor possui cases de sucesso de empresas que se adaptaram à nova realidade - Foto: Freepik

Lenilde Pacheco*

O setor têxtil é historicamente responsável por liderar revoluções tecnológicas e inovações mundiais. Hoje, em cenário cada vez mais competitivo, encontra-se diante do desafio de ser estrategicamente sustentável para permanecer na vanguarda. Foi esse o eixo discutido durante o Congresso Internacional da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e da Confecção (ABIT) 2024, em Salvador (BA), dias 30 e 31 de outubro.

O segmento representa a força produtiva de 24 mil empresas em território nacional, reunindo mais de 1,3 milhão de trabalhadores, segundo a ABIT. De acordo com dados IEMI Inteligência de Mercado, a Bahia possui mais de 400 indústrias têxteis e de confecções instaladas, criando mais de 35 mil postos de trabalho com produção de cerca de 200 mil toneladas apenas em 2023, além de um faturamento médio de 9,5 bilhões de reais. Cerca de 13 mil postos de trabalho encontram-se no segmento têxtil e 22 mil em confecção.

Diagnósticos apontam os gargalos que atrasam o desenvolvimento sustentável da indústria têxtil. O segmento fast fashion, por exemplo, produz grandes quantidades em ritmo acelerado, o que agrava o inadequado descarte de roupas. Muitos tecidos são produzidos com fibras sintéticas, como o poliéster, derivado do petróleo. Esses materiais levam centenas de anos para se decompor, causam acúmulo em aterros e liberam os poluidores microplásticos.

A produção de tecidos e o tingimento de roupas ainda incluem o uso de produtos químicos tóxicos, frequentemente descartados de forma incorreta, afetando rios e solo. A cadeia de valor ainda perde com as reduzidas taxas de reciclagem. Tecidos produzidos a partir da mistura de diferentes materiais dificilmente são reaproveitados. As empresas que adotaram ações de circularidade modificam esses parâmetros com ótimos resultados.

A transformação já inclui cases de sucesso de empresas que se adaptaram à nova realidade e participaram das discussões sobre Desenvolvimento Sustentável, mediadas pelo presidente emérito da ABIT, Fernando Valente Pimentel. O head de sustentabilidade da C&A, Leandro Ito, mostrou que a varejista de moda, fundada em 1841 pelos irmãos holandeses Clemens e August, conduz várias iniciativas, como o Movimento ReCiclo.

Com esse programa, a C&A oferece aos clientes e interessados uma alternativa de descarte para roupas usadas. Recebe peças em boas condições que são encaminhadas para reuso, além de ser uma opção para o descarte daquilo que não pode ser reutilizado. O ReCiclo opera em mais de 200 lojas, em todo o Brasil. São aceitas peças de qualquer marca (roupas em bom estado ou rasgadas, tecidos, roupa de cama, peças em lã ou crochê).

O sucesso obtido com o jeans mais sustentável também foi mencionado por Leandro Ito como fator relevante para o processo de mudança. O jeans é um dos produtos com maior impacto ambiental na moda. O processo, desde o cultivo de algodão, tingimento dos fios e lavagens, consome uma grande quantidade de água, produtos químicos e energia. A C&A lançou coleção com peças que reduziram em média 80% o uso de água no processo de lavanderia.

Dessa forma, a indústria têxtil se aproxima do consumidor e se torna mais justa, limpa, segura e responsável, afirmou o presidente do Sindicado da Indústria do Vestuário, Hari Hartmann. A programação da ABIT mostrou que as soluções emergem, como o desenvolvimento de materiais biodegradáveis, a promoção da moda circular, o incentivo à reciclagem e as mudanças que minimizam os impactos ambientais do processo produtivo, embora esteja faltando um longo caminho a percorrer.

 

* Lenilde Pacheco é jornalista especializada em Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável